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Ministério da Educação
CAPES

Volume 7, Número 2, Mai/Ago - 2003

ANNAES DE ENFERMAGEM

 

Trabalho apresentado a III.ª Conferencia Pan-Americana da Cruz Vermelha

 

 

Miss Bertha L. Pullen

Diretora da Escola de Enfermeiras Anna Nery

 

 

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ORGANIZAÇÃO DE UMA ESCOLA DE ENFERMEIRAS.

Rio de Janeiro, Setembro de 1935.

Ao receber o convite para participar do Congresso Pan Americano da Cruz Vermelha, a, Escola de Enfermeiras «Anna Nery» rejubila-se de sentir que mais uma vez tem a opportunidade de levar a sua participação ao desenvolvimento da profissão.

A evolução do padrão da enfermagem na America do Sul é assumpto que nos toca muito de perto. E, por essa razão, pedimos permissão para dissertar neste Congresso sobre alguns factores que nos parecem todos importantes na organização de uma Escola de Enfermeiras, em qualquer paiz ou communidade.

Esboçaremos, primeiro summariamente, esses factores, alargando-nos em considerações sobre cada um delles.

 

BASES PARA A ORGANIZAÇÃO

Ha varios factores que devem ser con siderados cuidadosamente antes de se introduzir uma Escola de Enfermeiras dentro de uma communidade.

1.º - Primeiramente, as necessidades reaes da communidade e as possibilidades de satisfazel-as. « Um governo ou uma communidade agem segundo o grau de crystallização da opinião publica» e se esta não estiver despertada ainda para as necessidades, o processo de organização será vagoroso e difficil.

2.º - Em segundo logar, a situação economica da communidade e sua capacidade de enfrentar as neccidades. Si a Escola de Enfermeiras fôr organizada com o objectivo de preparar enfermeiras para um serviço publico, então deverá recahir sobre o governo a responsabilidade moral e financeira de sua organização e desenvolvimento.

3.º - Em terceiro logar, o que deve ser incluido no programma dessa Escola, se baseia inteiramente nas necessidades da communidade, e não no que convem ensinar ás alumnas.

4.º - Em quarto logar, o nivel de educação com que se pode começar a Escola e que depende do nivel de educação das senhoras na communidade, e tambem das tradicçoes do paiz e decorrentes das condições economicas da mulher.

5.º - Em quinto logar, quaes as responsabilidades da Escola para com as columnas que vae acceitar; quando será responsável perante a cummunidade pelo seu successo futuro, como parte economica da communidade?

Em outras palavras, os principios fundamentaes da organização de uma Escola de Enfermeiras dependem dos conhecimentos do publico a respeito de enfermagem, da comprehensão de seus problemas e de um desejo sincero de resolvel-os.

O typo de organização de Escola a estabelecer depende dos typos de serviços medicos e de Saude Publica existentes, indispensaveis para manter a população com saude e assistir aos doentes da communidade. Si a percentagem de analphabetismo e de pobreza fôr elevada e os problemas sanitarios altos, será preciso naturalmente salientar mais os serviços de enfermagem de saúde publica, deixando para segundo plano a enfermagem hospitalar.

Si a população tiver um grau de educação médio, fazendo uso regular de hygiene no lar, conhecendo como cuidar das doenças banaes, e procurar o hospital sómente quando é realmente necessario, competirá a Escola dar mais attenção ao ensino da enfermagem hospitalar e domiciliar.

Em qualquer caso, o objectivo de qualquer Escola de Enfermeiras deverá ser o de educar scientificamente suas alumnas, preparando-as para enfrentar problemas de saúde da communidade a que vae servir, sejam esses problemas; hospitalar, escolar, emergência, saúde publica ou serviço privado.

Não é necessaria uma analyse aprofundada para conhecermos que o progresso de qualquer nação se determina mais ou menos pela sua saúde. O progresso economico se determina pela intelligencia de seu povo e seus emprehendimentos. Esses são consequencias de sua saúde, mau grado sua intelligencia.

Em uma çommunidade em que a morbidade e o analphabetismo sejam altos, com uma larga escala de diagnosticos, a responsabilidade da Escola para com suas alumnas é muito maior do que si o coeficiente das doenças fôr reduzido.

E' espantosa a pouca consideração dispensada ao organismo humano que representa o mais delicado mechanismo do mundo! Nesta mesma communidade que acabamos de citar, recorremos a mechanicos especializados para manejar e conservar em bom estado vehículos e força electrica que serve á população, emquanto que acontecendo qualquer accidente ao corpo humano, entregaremos ás mãos de creaturas incultas a tarefa de cuida-lo, ao preço que nos custaria qualquer empregado subalterno. Emquanto não mudarmos nossa attitude e consideração pela vida humana, não conseguiremos attingir um padrão elevado, na organização de escolas de enfermeiras, em geral.

Uma vez estabelecidas as necessidades da communidade, um dos factores a considerar como mais fundamental na organização, é a questão financeira.

Confirmado o que ficou dito acima, repetiremos que si a escola se organiza com o objectivo de attender á communidade, deverá ter subvenção do governo, seja Federal ou Municipal, do mesmo modo tomo são subvencionada, universidades e estabelecimentos de ensino popular.

Si a Escola exercer sua actividade dentro do hospital de natureza secular ou não secular, si fôr de caridade ou com fins commerciaes, deverá poder contar com um orçamento á parte, bem definido e adequado ás suas necessidades, independendo dos fundos determinados para a organização hospitalar.

Cabe á Directoria da Escola apresentar um orçamento estimativo das despezas provaveis de sua organização, o qual inclua reservas para o seu desenvolvimento necessario, sob qualquer ponto de vista.

A verba e as despezas de qualquer escola nunca devem depender das finanças excessivas que o hospital talvez tenha. Por sua vez, o hospital não deve contar com os rendimentos dos pagamento de seus doentes como fonte de reservas monetarias para supportar a escola.

Transcreveremos abaixo as citações comidas no trabalho do Dr. ROULE, Superintendente da Instrucção Publica de Harrisburg, Pennsylvania, publicadas em 1934, sob o titulo: « Transactions of the American Hospital Association»

« A Escola de Enfermeiras é uma actividade educacional e como tal, do verá ser subvencionada com fundos recolhidos para estes fins. A tradicção estabelecida de se pagarem as despezas das Escolas com fundos recolhidos no hospital, isto é, fundos provenientes de pagamento dos doentes, é um abuso, e foi estabelecida quando o custo da educação da enfermeira era reduzido, e o serviço hospitalar muito elevado. Emquanto os hospitaes não estabelecerem a proporção que devem reservar ás suas receitas para a questão de enfermagem, o progresso será muito problematico.

Si, entretanto, isto se puder traduzir em importancia real, então todas despezas que ultrapassarem esta importancia - gasto proveniente da manutenção da escola de enfermeiras, - deverão ser custeados petos fundos educacionaes para este fim accumulados. As despezas addicionaes de educação da enfermeira não deverão ser incluidas no custo da assistencia ao enfermo, assim como não o devem ser em qualquer outra despeza que possa affectar a tabella de pagamento dos doentes.

Si o hospital particular quizer dar sua contribuição á enfermagem, creando uma escola, deverá isto constituir seu prazer e privilegio, mas não deve recahir sobre os doentes o pagamento de educação de suas enfermeiras.

Uma parte deste fundo educacional mencionado pelo Dr. ROULE pode provir das taxas de matricula annuaes pagas pelas alumnas, mas se a Escola exigir uma contribuição para matricula deverá estar bem certa de que o typo de educação que vae dar corresponde á taxa cobrada.

O hospital não deve, em qualquer hypothese, contar com os serviços das alumnas para alivio de despezas da manutenção de enfermeiras diplomadas no serviço.

Depois de ter estabelecida a questão financeira, um outro factor fundamental na organização de boas escolas de enfermagem, a ser considerado, é o de ver que o hospital ulilisado como campo experimental da escola, esteja em bôa situação perante a communidade, que o seu corpo Director e corpo médico seja composto de pessoas de responsabilidade e com peso e influencia para poder estabelecer, além dos limites, os propositos de dignidade e estabilidade do estabelecimento e offerecer garantias ao publico, ás alumnas em perspectiva, e ás suas familias, em particular, e que seja um logar conveniente e convidativo para jovens, como campo de estudo experimental da profissão, convenientemente organizado.

Esse hospital deverá ser amplo para prover serviços activos nos varios ramos de experiencia de enfermagem, necessários a uma escola deste genero, e se elle não estiver em condições de satisfazer estas exigencias, a escola deverá procurar obte-los em outros hospitaes, em boas condições, sob forma de filiação, para que não seja affectada a educação completa de suas alumnas.

O terceiro principio importante na organização de uma Escola de Enfermeiras e o de estabelecimento de uma Junta Consultiva ou Directoria que represente o pensamento da conimunidade, e que tenha interesse vital pela escola. Esta junta deverá constituir-se de pessoas de influencia e grande experiencia, que tenham uma vasta comprehensão dos problemas e responsabilidades sociaes e economicas.

Caberia a essa Junta ou Directoria o controle completo da escola, por intermedio da Directora. Si a escola fôr dependencia do Governo, a quem, estão affectos os direitos e autoridades, deverá existir uma Directoria, para servir, no mínimo, de Conselheira, determinando as garantias da escola.

Depois da questão financeira, typo de organização, etc., vem a questão do typo de Faculdade de Instrucçao a ser mantida pela escola.

Primeiramente, o hospital onde funccionar uma Escola de enfermeiras não deve depender, de forma alguma, do corpo de alumnos fluctuantes da Escola para as necessidades de enfermagem a seus doentes. O hospital deverá empregar um corpo de enfermeiras diplomadas fixas com este objectivo, cabendo sómente á escola a responsabilidade do pagamento das enfermeiras necessárias á instrução das alumnas, deixando para as enfermeiras hospitalares a assistencia da maior parte dos doentes, de modo a permittir ás alumnas apenas o cuidado dos doentes que ellas effectivamente podem cuidar para laser os estudos completos.

Todo o pessoal do corpo docente da escola deveria ser cuidadosamente escolhido, levando em consideração o ponto de vista social, cultural, intellcetual e ethico da educação. Deveria ser exigido de cada um os mesmos requisitos que se exigem das candidatas ao se matricularem. Ellas devem ser diplomadas por Escolas de Enfermeiras reconhecidas e padronisada officialmente, tendo além disso, preparo especializado da materia cujo ensino lhe está confiado. Escola alguma pode esperar attrahir candidatas com attributos superiores aos do seu pessoal do corpo docente.

Aqui se repete o conceito do velho proverbio: « uma instituição nada mais é que o prolongamento da sombra de quem lhe preside os destinos »; creio que não será necessario repetir que a pessoa escolhida para a Direcção do estabelecimento é o espelho que vae reflectir o typo das enfermeiras Formadas pela escola. Sua directora deverá ser, portanto, pessoa com base educacional excepcional, unia enfermeira com larga experiencia nos varios ramos da profissão e pessoa de toda confiança.

Deverá estar apta a amoldar e pôr em pratica as finalidades da escola, guiando e collocando em execução os varios trabalhos, e coordinando a instrucçâo aos serviços hospitalares.

A Directora deverá ter uma percepção nitida da psychologia popular, possuindo o typo de personalidade e discernimento amadurecidos que lhe valham a confiança e o respeito das pessoas com as quaes terá de entrar em contacto.

Sua base educacional deverá ser firme e guiada por uma visão ampla, afim de que possa não somente manter satisfactoriamente o padrão do estabelecimento, mas ainda desenvolver novos methodos e novos objectivos, conforme a evolução dos tempos e necessidades que venha a acarretar.

A Instructora e chefes devem ser enfermeiras de personalidade definida e vigorosa, com enthusiasmo profundo e verdadeiro pelo seu trabalho. Devem ser accessiveis e prestativas, na assistencia á fiscalização das alumnos, demonstrando, ao mesmo tempo um grau de firmeza razoavel e decisão nas attitudes para com a padronização dos serviços a exigirem das alumnas. Nunca se deverá permittir que quem quer que seja venha a ser Instructora ou Chefe, sem ter perspicacia, criterio, equilibrio, emotividade controllada, verdadeira dedicação aos estudos e um desejo ardente de auxiliar ás futuras enfermeiras a apreciarem seu trabalho, obtendo de seu estudo o melhor proveito possivel.

Se o nosso objectivo fôr realmente resolver os problemas da assistencia aos enfermos e preservação da saúde, deveremos primeiramente possuir senhoras intelligentes a quem daremos preparo scientifico sufficiente, afim de que se possam capacitar da razão de ser de seu trabalho e dos resultados que delle advirão daqui a dias, mezes ou annos, dirigindo então seu trabalho para aquelle alvo.

Qualquer pessoa pode executar mechanicamente uma technita rotineira de enfermagem, mas nem a todos é dada a faculdade de poder dizer se os resultados obtidos são certos ou errados, e a razão de ser destes resultados. Demasiadas vezes foram sacrificadas vidas no passado, quando deveriam ser salvas, devido á ignorancia de quem, ministrava os medicamentos.

A candidata acceita numa Escola de Enfermeiras deverá trazer uma base social, cultural, bôa intelligencia, saúde robusta, senso ethico visivel e comprehensão da responsabilidade para com a communidade e habilidade de assumir responsabilidades seriamente.

O cuidado ás pessoas doentes mental e physicamente ou a preservação da saúde ás pessoas sãs, representa uma responsabilidade enorme e exige um controle energico da personalidade e uma reserva illimitada de predicados mentaes. Virtualmente não se deveria acceitar como candidata ao curso da escola, quem não estivesse habilitada ao curso medico, ao professorado ou a qualquer outra finalidade que infunda respeito.

O padrão educacional a exigir-se para admissão á escola de enfermeiras não deve ser inferior ao exigido para as universidades, e as alumnas deverão estar preparadas para supportar os estudos do curso, em parallelo com os de qualquer estabelecimento universitario.

Será indispensavel uma investigação sobre os antecedentes das candidatas, no que se relaciona á saude, íntelligencia, capacidade de collaboração, base social e a capacidade de leaderança.

Até agora temos fallado sobre todos os assumptos menos a respeito do «Curriculum» da Escola.

Para dar uma educação bem generalisada e completa ás alumnas, afim de que ellas possam enfrentar os multiplos e diversos problemas do paiz, ha no minimo sete ramos da medicina nos quaes deverão ter uma bôa base: medicina, cirurgia, obstetricia, pediatria, doenças contagiosas, abrangendo tuberculose e doenças veneraes, psychiatria com hygiene mental e enfermagem de saúde publica.

Todos estes ramos da profissão deverão estar em franca actividade, com um campo largo de diagnostico, afim de que sua experiencia de enfermagem alcance « de visum » todo o tirocinio que lhe for possivel.

O valor de qualquer serviço hospitalar sob o ponto de vista de sua utilisação, como campo de experiencia de enfermagem, está directamente em proporção com o numero de casos agudos ali assistidos.

E' um principio geralmente acceito nos paizes onde a profissão de enfermagem attingiu um nivel elevado de perfeição, que toda a escola desta especialidade tenha um curso preliminar de 4 a 6 mezes de instrucção, em salas de aulas, onde os assumptos basicos da enfermagem sao ensinados ás alumnas.

No campo theorico ha certas sciencias basicas que qualquer pessoa que penetre na profissão tanto medica como de enfermagem deve estar mais ou menos familiarisada.

Para comprehender o mechanismo humano, suas reacções ás doenças, typos de medicação, tratamento e natureza de processos curativos naturaes, a enfermeira deve conhecer e comprehender essas sciencias, antes de lhe ser permittido acceitar a responsabilidade de um objecto tão precioso como o é a vida humana. Segundo dissemos anteriormente; a ignorancia, frequentemente, tem acarretado perda de vidas quando procurava salval-as. Ficariamos apavorados, certamente, si conseguissemos uma estistica sobre este assumpto.

O periodo preliminar facultado ás alumnas dá uma excellente opportunidade a escola para julgar da sinceridade, adaptabilidade e capacidade de cada uma, se é desejavel para a enfermagem, antes de deixal-a proseguir na parte mais seria da profissão.

E' frequente ouvirmos dizer que a habilidade da enfermeira é nata e não resulta de seu preparo. Não concordo com este conceito.

Em todas as profissões da vida encontramos sempre algumas pessoas mais inclinadas e adaptaveis para determinados trabalhos do que outras, mas todos nós somos infinitamente mais criteriosos, mais uteis e mais garantidos para o publico, de accordo com o preparo que adquirimos.

Nos ramos fundamentaes da profissão que alicerçam o ensino da enfermagem, estou certa de que perguntareis porque será necessario dispender 2, 3, 4 ou 5 mezes em um só ramo?

As enfermeiras são como soldados em muitos casos. Devem estar promptas para agir, no momento preciso, em todas as circumstancias, sejam ellas quaes forem. Esta reacção depende dos habitos de formação.

Para formar habitos de pensar e executar, é necessario enfrentar dias, semanas e mezes situações similares, cada vez mais sob cuidadosa guia de um Chefe, até se certificar que a situação pode ser enfrentada com todas as suas variantes, sem temor de um engano, no momento de agir.

« A Enfermeira vem a ser conhecida pelo typo de sua reacção emotiva sob tensão, estes attributos de personalidade e não suas qualidades intellectuals determinarão sua utilidade em qualquer emprehendimento que lhe fôr confiado ».

O tempo determinado para qualquer ramo da profissão deve ser sufficientemente longo para que se possa adquirir tirocinio de organização do trabalho, bons habitos de reacção e comprehensão completa dos varios typos de doenças. Attingidas estas prerogativas, não é necessario persistir naquelle ramo de serviço.

Não quer isto dizer que se a alumna permanecer em determinado serviço durante um certo numero de semanas, tenha adquirido experiencia technica, bons habitos e aquella base de reacção mental indispensavel para enfrentar as emergencias futuras.

E' obrigação da Escola collocar em cada um dos ramos de experiencia onde têm suas alumnas, uma enfermeira chefe bem preparada, para desempenhar methodos, e arranjar o material necessario afim de que esses regimens, habitos mentaes e physicos, pontos de vista e conhecimentos necessarios á profissão venham a ser adquiridos.

Em todos os ramos da experiencicia os assumptos theoricos coordenados aos ramos de experiencia pratica deveriam ser dados simultaneamente, tanto quanto possivel, theorica e pratica ao mesmo tempo.

O numero de horas que a alumna deve passar diariamente nas enfermarias do hospital depende inteiramente do numero de horas de aulas diarias, as duas juntas não devem exercer de 8 horas em total.

Uma bôa instrucção, e qualquer instrucção effectivamente se perde, se as alumnas que a ella se dedicarem empregarem seus esforços physicos prolongada e exhaustivamente, como o exige a enfermagem que envolve esforço consideravel, tanto mental como nervoso. Nestas condições, os sentidos se entrechocam, o raciocinio trabalha vagororamente e a concentração torna-se praticamente impossivel.

As Escolas de Enfermeiras devem ser escrupulosamente sensivel na preoccupação de prever que a instrucção dada ás alumnas o seja em condições que não diminuam ou depreciem o seu valor.

Muitas vezes a vigilancia, a coragem e o sentimento de justiça do Director da Escola poderão ser a unica protecção das alumnas contra as condições da vida e do trabalho, as quaes redundariam em pouco valor da melhor qualidade de instrucção que lhes poderia ser proporcionada.

Ultima, mas não menos importante é a questão das condições em que devem viver as alumnas, depois dos serviços. Não podemos esperar que moças intelligentes e de bôa família desejem entrar na Escola, sujeitando-se a viver em condições de hygiene e conforto em nivel inferior ao do ambiente em que foram educadas.

Depois das horas de trabalho e estudo, é este um dos factores determinantes da qualidade de enfermeiras que a Escola vae diplomar e que se reflecte muito definitivamente sobre seus ideaes e espirito, attitude, saúde, trabalho effíciente e capacidade em geral para tirar do curso algum resultado.

A Enfermagem, sob qualquer ponto de vista, é um serviço excessivamente penoso que exige da enfermeira muito de seus recursos physicos e mentaes para seu doente. Seu ambiente de vida, portanto, quando fóra do serviço, deve ser em condições de poder renovar e refazer as perdas occasionadas pelo serviço. É essencial e imperativo que cada alumna ou enfermeira possa ter um quarto seu separado, com todo o conforto, bem mobiliado e que lhe dê a athmosphera de um lar. Na Escola de Enfermeiras a alumnas recebem sua educação sob condições especialmente exigentes e difficeis, estando sujeitas a condições fatigantes e de responsabilidade muito diversas das de outra qualquer profissão. E lhes, portanto, indispensavel, quando fóra de serviço, um ambiente socegado e afastado, onde possam descançar e estudar.

Uma attenção particular deve ser dada ao typo de comida a ser servido ás alumnas e o modo como é servida. Não ha nada que desagrade mais a uma enfermeira, depois de um dia exhaustivo de serviço, do que ser obrigada a penetrar numa sala de jantar sem attractivos, onde as mesas estejam em desordem e a comida mal preparada e mal servida.

Não ha nada de que a alumna precise mais para a especie de trabalho em que se emprega, de que refeição bem orientada, equilibrada, bem preparada e bem servida.

Nossa obrigação para com nossas alumnas não termina nas enfermarias, devemos preparal-as para que, uma vez fôra da Escola, estejam promptas e aptas a enfrentar a vida social, assim como a vida economica.

Sommando os factores importantes que devem ser considerados na organização basica de uma escola de enfermeiras, devemos considerar:

1.º - Finanças
2.º - Directoria da Escola
3.º - Typo de hospital
4.º - Typo da Faculdade
5.º - Typo de candidatas
6.º - Typo de experiencia e « Curriculum »
7.º - Por ultimo, residencia das Enfermeiras.

 

BIBLIOGRAPHIA

* The States Responsibility to Nursing Education. - James N. Reele MD.

Transactions - American Hospital Association. 1934.

Standard Curriculum For Schools of Nursing.

Nursing Schools today and Tomorrow - By Grading Committee.

Annual Reports of the National League of Nursing Education.

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