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CAPES

Volume 8, Número 3, Set/Dez - 2004

ARTIGOS DE PESQUISA

 

O perfil dos egressos de um programa de pós-graduação em enfermagem

 

The profile of the egressed from a nursing postgraduate program

 

El perfil de los egresados de un programa de postgraduación en enfermería

 

 

Karla Maria Carneiro RolimI; Maria Gorette Andrade BezerraII; Vládia Teles MoreiraIII; Maria Vera Lúcia Moreira Leitão CardosoIV

IEnfermeira da Unidade Neonatal da Maternidade Escola Assis Chateaubriand/MEAC/Universidade Federal do Ceará. Doutoranda em Enfermagem Clínico - cirúrgica e Membro do Projeto Saúde do Binômio Mãe / Filho - Departamento de Enfermagem / Universidade Federal do Ceará. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza/UNIFOR. E-mail: karla.rolim@uol.com.br
IIDocente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza/UNIFOR. Enfermeira do Centro de Parto Natural da Maternidade Escola Assis Chateaubriand/MEAC/Universidade Federal do Ceará. Mestre em Enfermagem Clínico - cirúrgica e membro Projeto Saúde do Binômio Mãe/Filho - Departamento de Enfermagem/ Universidade Federal do Ceará. E-mail: gorette_bezerra@unifor.br
IIIDocente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza/UNIFOR. Enfermeira da Unidade de Terapia Intensiva do Instituto Dr. José Frota/IJF. Mestra em Enfermagem Clínico- cirúrgica pelo Departamento de Enfermagem / Universidade Federal do Ceará. E-mail: telesvladia@bol.com.br
IVDoutor em Enfermagem, Professor Adjunto e Coordenadora do Projeto Saúde do Binômio Mãe/Filho - Departamento de Enfermagem / Universidade Federal do Ceará. E-mail: cardoso@ufc.br

 

 


RESUMO

O estudo objetivou descrever o perfil dos enfermeiros egressos de um Programa de Pós-graduação stricto sensu no que concerne à sua participação em grupos de pesquisa, eventos técnicos e científicos e à modificação na sua prática profissional após o mestrado e/ou doutorado. A amostra foi constituída por 29 egressos do Programa da Universidade Federal do Ceará, no período de 1998 a 2002. Os dados foram coletados através de questionário. A pesquisa evidenciou que 14 enfermeiros (48,3%) atuam concomitantemente na docência e assistência e 12 deles (41,4%) atuam somente na docência. Mostrou também que 20enfermeiros (68,9%) são mestres e 28 deles (96,5%) são do sexo feminino. Todos os egressos participam de eventos nacionais ou internacionais e sua atuação profissional foi modificada respaldando-se em estratégias de ensino, aprendizagem e orientação de trabalhos científicos, aumentando assim sua responsabilidade com a sociedade e com a Enfermagem.

Palavras-chave: Enfermagem. Educação de pós-graduação. Pesquisa em avaliação de enfermagem.


ABSTRACT

This study aimed to describe the profile of the egressed nurses from a stricto sensu nursing Postgraduation Program concerning the participation in research groups, technical and scientific events and whether there occurred changes in their professional practicing after the postgraduation course. It was held at the Ceará Federal University in 2002. The sample was composed of 29 graduates from the respective Program, from 1998 to 2002. Data were collected through the application of a form. The research showed that 14 (48.3%) work with teaching and nursing at the same time, and 12 (41.4%) work only with teaching, most of them holding a masters degree, that is, 68.9% (20), and 96.5% (28) are women. They participated in national and international congresses. It was possible to notice that their professional practicing changed due to teaching and learning strategies and orientation concerning scientific works, which increased their responsibility with society and Nursing.

Keywords: Nursing. Postgraduation Education. Nursing evaluation research.


RESUMEN

El estudio objetivó describir el perfil de los enfermeros egresados de un Programa de Postgrado stricto sensuen lo que concierne a su participación en grupos de pesquisa, eventos técnicos y científicos y a la modificación en su práctica profesional después de la maestría y / o del doctorado. La muestra se constituyó de 29 egresados del Programa de la Universidad Federal de Ceará - Brasil, en el período de 1998 a 2002. Los datos fueron recolectados a través de cuestionario. La investigación evidenció que: 14 enfermeros (48,3%) actúan concomitantemente en la docencia y en la asistencia; 12 enfermeros (41,4%) actúan solamente en la docencia; 20 enfermeros (68,9%) son maestros; y 28 de ellos (96,5%) son del sexo femenino. Todos los egresados participan de eventos nacionales o intenacionales y su actuación profesional fue modificada respaldándose en estrategias de enseñanza, apredizaje y orientación de trabajos científicos, aumentando así su responsabilidad con la sociedad y con la enfermería.

Palabras clave: Enfermería. Educación de Postgrado. Pesquisa en evaluación de enfermería.


 

 

INTRODUÇÃO

O Programa de Pós-graduação stricto sensu visa à qualificação do profissional para uma prática baseada na evidência científica. Assim, o processo de familiarização com a pesquisa deve promover a produção de conhecimento, favorecido pelo compromisso e pela competência deste profissional. Esse processo educativo está presente na existência humana e o indivíduo busca o saber, quando procura a realização pessoal1.

Na Enfermagem, a pesquisa traduz-se em objetivo, função e instrumento11, uma procura planejada de informações, que tem a finalidade de formar e desenvolver o corpo de conhecimentos nessa área da saúde2. Nesse sentido, a pesquisa constitui-se em estudo minucioso e sistemático com o fim de descobrir fatos relativos a um campo do conhecimento3, sendo um instrumento que pode fornecer maior fundamentação para a prática de enfermagem. Ao ser estabelecida sobre uma base científica, a pesquisa permite desvendar uma relação de variáveis com os princípios científicos, subsidiando o cuidado.

Investigar é proceder de forma reflexiva e sistematizada, a partir de uma visão crítica, permitindo-se descobrir fatos ou dados, relações e leis, em qualquer campo do conhecimento. Assim, a análise e a compreensão dos dados são formuladas a partir dos princípios científicos, aos quais os enfermeiros adaptam suas ações em diversas situações apresentadas na prática4. Pesquisar requer criatividade com emprego de procedimentos e disciplinas determinadas, não sendo um trabalho puramente mecânico. Portanto, é imprescindível que o pesquisador seja persistente, dedicado ao trabalho e possua imaginação criadora e iniciativa individual.

A partir da década de 1970, a implantação de cursos de pós-graduação stricto sensu estimulou o crescimento da pesquisa científica na enfermagem, com a criação do curso de mestrado em enfermagem5. Mais recentemente, esse movimento da pesquisa científica na Enfermagem refletiu-se no desenvolvimento dos grupos de pesquisa, muito importantes nas universidades, pois trazem uma contribuição relevante para o ensino de graduação e pósgraduação em enfermagem6, por meio:

a) da motivação ao aprendizado das temáticas não abordadas na graduação e de técnicas científicas;

b) da divulgação da Enfermagem junto às demais áreas e do auxílio na formação profissional, estimulando o poder decisório, crítico e competente;

c) da oportunidade para a integração do aluno de pós-graduação, favorecendo o aprofundamento dos conhecimentos relativos à pesquisa, à integração de ensino, pesquisa e assistência e à melhoria da qualidade do cuidado.

Foram propostos certos critérios para a formação desses grupos, entre os quais: a duração e composição fundamental, pessoal; questão norteadora, interfaces; produção e divulgação; oferta de serviço à comunidade e critério de tempo, caracterizando-os como consolidados, os formados há mais de cinco anos e emergentes aqueles formados nos últimos cinco anos7.

Há um considerável aumento do número de enfermeiros docentes com titulação acadêmica de mestrado e doutorado, docência-livre e professor titular8. Esperase que esses mesmos enfermeiros, ao atuarem em seu campo, dêem continuidade à produção de pesquisas, apesar das dificuldades inerentes à sua realização, entre as quais destacam-se as relativas aos custos e espaços para publicações, pois, embora existam inúmeros periódicos na Enfermagem, ainda assim existe uma demora de seis meses a um ano para a publicação, exigindo para isso tempo e empenho na qualidade do trabalho a ser publicado.

Entre as estratégias para desenvolver o conhecimento científico na Enfermagem, destacam-se a criação do curso de doutorado e o incentivo dos órgãos de fomento à pesquisa - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); fundações de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico, na esfera estadual, e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sendo eles responsáveis pelo repasse de recursos financeiros e concessão de bolsas, favorecendo o surgimento de grupos nas mais diversas linhas de pesquisa.

A área da Enfermagem, como campo de produção de conhecimento no CNPq, tem alcançado méritos crescentes, por meio dos esforços dos programas de pós-graduação e da Associação Brasileira de Enfermagem, através da maior divulgação das pesquisas, das dissertações e das teses 9. No entanto, a pesquisa deve ser uma atividade continuada e não esporádica. Por isso mesmo, o fluxo de recursos deve ser regular e constante, sem o qual os grupos dissolvem-se e todo o investimento já realizado se perde10.

Para promover o fortalecimento da investigação científica, foi estimulada a criação de grupos e linhas de pesquisa, em que pesquisadores agrupam-se em torno de áreas de interesse comuns, realizando trabalhos na visão de uma perspectiva coletiva 11. No entanto, a formação de grupos de pesquisa é um processo lento, que têm como base as crenças e os valores dos componentes do grupo, que buscam uma unidade e investimento para eles. Por outro lado, também promove a conquista de um espaço científico e o desenvolvimento de conhecimentos e potencialidades.

Assim, o real significado de perfil aplicado ao enfermeiro-pesquisador engloba uma forma pessoal de produção científica norteada pela demanda de necessidade social mais imediata12. A pesquisa para o profissional pós-graduado funciona como um instrumento para o seu processo de trabalho. Na Enfermagem, pesquisar traduz-se em uma forma continuada para a melhoria da prática dos enfermeiros.

Por fazerem parte de um Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Enfermagem e estarem no contexto da pesquisa, as autoras sentiram necessidade de verificar a concordância entre o discurso e a prática no cotidiano dos egressos. Essa concordância envolve mudanças de atitudes e postura profissional na promoção de uma assistência humana e de qualidade para o cliente, compromisso com a instituição e com a pesquisa e busca de melhores condições para o exercício do cuidar.

A Enfermagem, na busca de um corpo próprio de conhecimentos, tem encontrado na pesquisa um instrumento indispensável ao seu fortalecimento. No entanto, não é possível afirmar que os egressos do Programa de Pós-graduação stricto sensu perceberam a pesquisa como instrumento de trabalho para a transformação da realidade. Esse conhecimento pode ser compartilhado ou comunicado a outros profissionais que, além de uma visão filosófica, devem identificar questões e buscar melhores caminhos e maneiras para trabalhar situações ainda não solucionadas13.

Assim, este estudo foi delineado com os objetivos de: (a) descrever o perfil dos enfermeiros egressos de um programa de pós-graduação stricto sensu em Enfermagem, no que concerne à sua participação em grupos de pesquisa e eventos técnico-científicos, no período de 1998 a 2002; (b) averiguar a modificação na atuação profissional dos egressos quanto à pesquisa, proporcionada pela realização do curso de mestrado e/ou doutorado; e (c) identificar os fatores predisponentes à continuidade ou não na trajetória da pesquisa, na opinião dos egressos.

 

METODOLOGIA

Este estudo tem uma natureza descritiva, com a adoção de uma abordagem quantitativa. Estudos com essa configuração devem ser utilizados nas situações exigentes de um conhecimento do problema ou objeto da pesquisa, que demandam um diagnóstico inicial da situação14. A abordagem da pesquisa quantitativa é utilizada, quando se deseja assegurar a objetividade e a credibilidade aos achados e a questão proposta indica uma preocupação com a quantificação, comparando eventos15.

A amostra foi constituída por 29 egressos do Programa de Pós-graduação stricto sensu, Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), no período 1998 a 2002. A escolha desse período aconteceu em função do ano de implantação do Curso de Doutorado em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, em 1998, o que predispõe a consolidação de um maior número de pesquisadores e a formação de grupos de pesquisa facilitando a verificação de uma maior abrangência e um impacto do Programa na sociedade.

Foram excluídos da pesquisa os egressos que moravam ou trabalhavam fora da cidade de Fortaleza, por não haver condições financeiras por parte das pesquisadoras para deslocamentos fora da sua área de residência. Além disso, foi identificada uma certa dificuldade em localizar esses egressos, em virtude das mudanças de endereços residenciais e profissionais.

Vale ressaltar que o Programa de Pós-graduação stricto sensu do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará foi implantado em 1993, com o Curso de Mestrado, cuja área de concentração denominou-se Enfermagem em Saúde Comunitária. Esse período marcou o início de uma fase de renovação nos grupos de pesquisa que, após uma reestruturação, foram cadastrados no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil, do CNPq6. Após dois anos da implantação, foi criada uma outra área de concentração para esse Curso de Mestrado intitulada Enfermagem Clínico-Cirúrgica.

Em 1998, foi implantado o Programa de Doutorado, cuja finalidade foi a formação de pessoal qualificado para o exercício das atividades de pesquisa na área de concentração em Enfermagem. Atualmente, porém, o Doutorado incorporou outras áreas de concentração já existentes no Mestrado, ou seja, Enfermagem Clínico-Cirúrgica e Enfermagem Comunitária. Ambos os Cursos são regulados pelo Regimento Geral e pelas Normas para os Cursos de Pós-graduação stricto sensu da Universidade Federal do Ceará, aprovadas pela Resolução n.º 14, de 02 de maio de 199715.

Como instrumento de coleta de dados, as pesquisadoras utilizaram um questionário com perguntas abertas e fechadas, cujas temáticas foram apresentadas na modalidade semi-estruturada. Esse instrumento contemplou informações acerca do curso concluído, ano, área de atuação, participação do egresso em grupo de pesquisa, além de sua freqüência em eventos técnico-científicos. As perguntas abertas tiveram a finalidade de investigar percepções dos participantes do estudo acerca da importância da pesquisa como instrumento de trabalho.

A coleta de dados foi realizada pelas próprias autoras, que se deslocaram até as residências e locais de trabalho dos egressos e entregaram os questionários, após contato prévio por telefonia celular ou fixa para confirmação dos endereços.

Foram anexados ao questionário uma carta explicativa sobre a importância do estudo e um termo de consentimento livre e esclarecido. Esse termo informou aos participantes que eles receberiam anonimato relativo a suas identidades junto aos dados coletados e liberdade de desistência de sua participação em qualquer das etapas da pesquisa, conforme explicita a Resolução n.º 196, de 10/10/1996, do Conselho Nacional da Saúde, referente à pesquisa com seres humanos. Este estudo foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COMEPE) da UFC, através do Ofício n.º 35/03 e sob o protocolo n.º 218/02.

Para organização e exposição dos dados das questões abertas, foram utilizadas tabelas para caracterizar o perfil dos participantes. Portanto, foi necessário o agrupamento por semelhanças de palavras e expressões para facilitar a apresentação dos dados, com a finalidade de expressar a opinião dos egressos do Programa sobre a pesquisa como instrumento de trabalho. De posse dos questionários respondidos, as perguntas fechadas foram analisadas mediante a codificação e tabulação, sendo as respostas expressadas em tabelas, com freqüência absoluta e relativa.

 

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

No Brasil, a pesquisa em enfermagem como processo de produção de conhecimento científico vem alcançando especial destaque, devendo-se isso à ampliação dos cursos de pós-graduação na área16. Com isso, mostram-se a seguir os dados relativos aos egressos do Programa de Pós-graduação, participantes deste estudo, cuja amostra foi constituída de 28 (96,5%) mulheres e um homem (3,5%). Essa amostra compreende 46,7% do total de 62 egressos do período, sendo portanto significativa em relação ao universo considerado.

Os dados da Tabela 1 mostram um aumento no número de enfermeiros que buscaram o Programa de Pósgraduação stricto sensu em Enfermagem da UFC. A isso se soma a necessidade de constante atualização por parte dos profissionais envolvidos com a assistência, visto que o avanço da tecnologia e da ciência exige conhecimentos cada vez mais aprofundados para a utilização de equipamentos, para o aprimoramento de técnicas de manuseio e relacionamento interpessoal com os pacientes e demais membros da equipe de saúde.

 

E na docência, o professor busca o desenvolvimento de metodologias de ensino que levem a uma aproximação entre a teoria e a prática, conduzindo o graduando a desenvolver um pensamento crítico, envolverse com a pesquisa e assim construir formas de aperfeiçoamento do profissional de enfermagem.

O título de Mestre em Enfermagem é um pré-requisito para o ingresso no doutorado, na maioria dos programas de pós - graduação stricto sensu na Enfermagem, o qual objetiva enriquecer a competência científica dos graduados. Com seu desenvolvimento acadêmico, um profissional torna-se capaz de avaliar criticamente a prática profissional nos campos do cuidado e da pesquisa, relacionando-se com grupos dentro de uma visão humanística e social17.

 

 

Observa-se que 25 dos egressos (89,7%) desenvolvem atividades docentes, sendo que 11 estão exclusivamente na docência e 14 deles englobam a docência e assistência, concomitantemente. Apenas 02 dos egressos (6,9%) atuam somente na assistência.

A maioria dos respondentes atua na área da docência, confirmando assim um dos objetivos do Programa descrito pela CAPES, que estabelece como norma do seu funcionamento a formação e competência e o desempenho de docentes na produção científica e tecnológica, em termos de qualidade e produtividade 18.

Evidenciou-se um número expressivo de mulheres egressas do Programa, justificando a Enfermagem como uma profissão composta em sua maioria por mulheres. Ainda nos dias atuais, a Enfermagem permanece como uma profissão essencialmente feminina, pois é sabido que o percentual de homens que buscam e ingressam na profissão é reduzido19. São próprias da mulher as atividades de tomar conta, cuidar e tratar expressando uma forma de relação com o mundo20. As mulheres foram os primeiros seres a praticar a Medicina, não porque eram enfermeiras naturais de seus homens e crianças, e tampouco porque realizavam os partos. Mas por sua conexão tão próxima com o solo, por meio da agricultura. A mulher foi quem tratou no sentido de cuidar e de curar. O cuidado humano é uma forma de estar, de ser e de se relacionar, podendo as mulheres ser consideradas cuidadoras por excelência21.

Foi também observado pelas pesquisadoras que outra área de atuação predominante entre os egressos do Programa é a de assistência, na qual entram também os enfermeiros que atuam na docência, o que conduz à reflexão sobre a necessidade de integração entre o ensino e a atuação em serviço. Não se pode realizar uma prática criativa sem retorno constante à teoria, bem como não é possível fecundar a teoria sem seu confronto com a prática22.

 

 

Fica evidenciado o fato de que a maioria dos respondentes participam de grupos de pesquisa, pois, dos 29 egressos respondentes, observou-se que 18 deles (62%) estavam inseridos em grupos de pesquisa, sendo 11 egressos (38%) mestres e 07 deles (24%) doutores.

Para responder à questão do instrumento que enfocava a que programa ou a que instituição estava vinculado o grupo de pesquisa dos egressos, detectou-se que, de 18 egressos, 09 deles (31%) estavam vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC, 02 egressos (7%) estavam ligados ao Programa de Pós-graduação da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e 04egressos (14%) estavam em ambos os Programas.

Os demais egressos que participavam de grupos de pesquisa estavam vinculados a outras instituições, tais como a Universidade Estadual do Ceará (UECE), a Universidade de Bordeaux (França) e o Instituto Dr. José Frota (Ceará).

A Enfermagem é uma das áreas que apresenta crescimento expressivo em produção científica18. Essas pesquisas contribuem para o desenvolvimento mais crítico do pensamento na profissão, possibilitando, entre outros aspectos, a busca de sua identidade profissional, um tema tão polêmico e tão discutido na atualidade.

 

 

Quanto à inserção dos egressos em grupos de pesquisa, detectou-se que 14 deles (48.3%) começaram suas atividades nos grupos antes de iniciarem o mestrado. Isso é uma conseqüência da iniciação científica de alunos da graduação em projetos de pesquisa coordenados pelos docentes da Enfermagem, através de concessão de bolsas de IC pelos órgãos públicos de fomento, tais como CAPES e CNPq. Evidenciou-se ainda que 7 egressos (24,1%) não participaram, nem participam de nenhum grupo de pesquisa.

O profissional deve ir ampliando os seus conhecimentos, buscando substituir sua visão ingênua da realidade por uma visão mais crítica1. A pesquisa permite a ampliação de visão crítica do enfermeiro, quando ela é utilizada como intervenção de natureza qualitativa, valoriza a observação e a criação coletiva e possibilita a análise e reestruturação de propostas metodológicas e Programas de Ensino, numa perspectiva inovadora23.

Foi realizada a opção de aglutinar as respostas conforme suas semelhanças para explanação acerca dos fatores que interferiram na continuidade ou não do enfermeiro na trajetória da pesquisa. Vale lembrar que, em alguns casos, existiu mais de uma resposta por egresso, nas questões abertas do questionário utilizado.

Assim, identificou-se o fato de que a maioria dos egressos citou vários fatores para continuar pesquisando ou não, tais como a falta de incentivo da instituição de origem na concretização de pesquisas (11 egressos), ter interesse e vontade para desenvolver as pesquisas (11 egressos), a escassez de financiamento dos órgãos de fomento à pesquisa (7 egressos), aplicabilidade dos resultados na prática (6 egressos), extensas jornadas de trabalho (5 egressos), dificuldade para publicar artigos em periódicos (3 egressos).

Em menor freqüência ainda foram obtidas respostas relativas aos baixos salários, à busca da formação de grupos de pesquisas, à disponibilidade de tempo e à manutenção de vínculo com a instituição de ensino da pós-graduação.

A motivação provém de um instinto inato, mas reage imediatamente ao estímulo externo e pode condicionar um novo comportamento24. Os comentários dos egressos a respeito da pós-graduação refletem pensamentos preocupantes com relação ao apoio para a educação continuada, aos recursos sob a forma de bolsas para realizar estudos e às dificuldades na aceitação do enfermeiro pós-graduado no serviço, que busca mudanças para o melhoramento da profissão, um papel ainda em construção. Acredita-se que esses posicionamentos podem ser conseqüência da desmotivação, da situação desvantajosa em que trabalha a maioria dos enfermeiros traduzindo-se, muitas vezes, na falta de interesse pela pesquisa, mesmo no papel de consumidores de seus resultados35.

 

 

Este gráfico mostra a participação dos egressos em mais de um evento, dos quais os mais procurados foram, em ordem decrescente: congressos nacionais (36%), eventos locais (29%), regionais (24%), internacionais (11%). A difusão do saber pode ser realizada em congressos locais, regionais, nacionais e internacionais, que aglutinam enfermeiros das mais diversas procedências e especialidades. A classificação do saber em Enfermagem passa por muitas reformulações e os temas são abordados em diversos eventos da categoria25. Isso estimula a presença de enfermeiros pesquisadores, docentes e assistenciais nesses eventos que objetivam classificar, reformular e engrandecer a prática da Enfermagem.

O conhecimento do mundo é necessidade ao mesmo tempo intelectual e vital26. O profissional que não mergulhar no saber profissional para questioná-lo estará eticamente equivocado. Esse equívoco não elimina o fato de toda a prática estar vinculada ao conhecimento científico27.

 

 

A educação do profissional torna-se um caminho para a construção da cidadania, com uma conseqüente análise crítica da realidade, focalizando, assim, indícios de uma possível transformação28. Constatou-se neste gráfico que, na opinião da grande maioria, houve mudanças na atuação profissional dos egressos, tais como o amadurecimento no que concerne à aquisição de conhecimentos, o redimensionamento das orientações dadas aos alunos da graduação e pós-graduação, a incorporação dos conhecimentos obtidos com as pesquisas e com a prática, a postura profissional mais amadurecida e a crítica para o conhecimento. Destaca-se a importância da qualificação profissional, uma vez que, em uma sociedade com condições diferenciadas, é inevitável a avaliação comparativa. Nesse contexto, cada um deve investir no desempenho pessoal, a fim de melhor exercer sua função em seu espaço social, de forma ética e honesta.

A ampliação da competência não ocorre apenas por meio do treinamento, mas baseia-se na qualidade dos serviços e produtos, na criatividade, no espírito crítico, na atualização permanente, na visão global, enfim, no aprimoramento da formação.

No aprendizado da pesquisa, o profissional estabelece prioridades, utilizando o conhecimento de forma criativa e crítica e criando espaços para reflexões29. O homem é aquele que opta pela mudança e não teme a liberdade1.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O perfil dos egressos do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Enfermagem da UFC, no período de 1998 a 2002, revelou que 14 deles (48,3%) atuam na docência e assistência concomitantemente e 12 deles (41,4%) exercem somente a docência, sendo os mestres em maior número (20 egressos 68,9%). Salienta-se que, da amostra, 28 egressos (96,5%) são do sexo feminino.

Mais da metade dos egressos (18 - 62%) afirmaram participar de grupos de pesquisas vinculados a programas de pós-graduação de enfermagem, ligados a instituições de ensino públicas e privadas, sendo que 14 deles (48,3%) iniciaram sua experiência de pesquisar como alunos da graduação nos projetos de pesquisa coordenados por docentes de enfermagem e apoiados com bolsas concedidas por órgãos públicos de fomento, tais como CAPES e CNPq.

A pesquisa evidenciou a participação dos sujeitos em mais de um evento técnico-científico, sendo que 55,1% (16 egressos) participaram de eventos nacionais, anualmente. Também foram apontadas modificações na atuação profissional dos respondentes, pelo amadurecimento, aquisição de conhecimentos e incorporação destes à prática decorrente da experiência como profissional pesquisador. Entre essas modificações surgiram a incorporação e o aperfeiçoamento de conhecimentos adquiridos, para os aplicar em orientações de trabalhos de pesquisas, seja em cursos de graduação e/ou de pós-graduação, despertando para a necessidade de senso crítico e as oportunidades para estudar mais sobre a Enfermagem.

A inquietude que os profissionais de enfermagem manifestam em seu cotidiano faz com que busquem uma maturidade profissional suficiente para olhar o trabalho por meio de uma referência mais abrangente e profunda, uma maturação muitas vezes conquistada pelo conhecimento adquirido com a qualificação em seu campo do saber e sua contextualização na práxis.

A prática institucional é outro fator importante, pois ela se encontra voltada para rotinas e protocolos e não para as mudanças nas políticas públicas na área da saúde, tanto na assistência primária, como na secundária, pois elas estão voltadas para a ação curativa e prática manual.

Os cursos de pós-graduação stricto sensu têm como um dos seus principais objetivos e uma exigência acadêmica a formação de docentes. Muitas vezes, o profissional assistencial não está envolvido com atividades de docência. Isso, de alguma forma, pode interferir na procura e continuidade da pesquisa, reforçando os velhos tabus e as lacunas acerca da integração docente-assistencial.

Como motivação do enfermeiro para empreender a tarefa de pesquisar, sugere-se o apoio institucional no acesso a fontes bibliográficas, a criação de projetos de pesquisa financiados, o intercâmbio cultural e a orientação para aplicação dos resultados das pesquisas na prática, a criação e o apoio do serviço de educação continuada. Sabe-se que o enfermeiro, ao incluir a pesquisa no processo de cuidar, obtém como resultado a melhoria da qualidade e a visibilidade de suas ações.

Considera-se relevante a sistematização da avaliação dos egressos dos programas de pós-graduação stricto sensu de enfermagem, para que se possa avaliar criticamente a contribuição desses programas para a Enfermagem.

 

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Recebido em: 15/09/2003
Reapresentado em: 10/08/2004
Aprovado em: 17/09/2004

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