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Jovens universitários e o conhecimento acerca das infecções sexualmente transmissíveisa a Extraído da dissertação de mestrado de título: Condutas sexuais de jovens universitários e o conhecimento em relação às Infecções Sexualmente Transmissíveis. Apresentada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro em dezembro de 2016.

Resumo

Objetivo:

Analisar a relação dos aspectos sociais de jovens universitários com o conhecimento acerca das formas de transmissão das infecções sexualmente transmissíveis.

Método:

Estudo descritivo transversal realizado em uma universidade. Os participantes foram os universitários na faixa etária de 18 a 29 anos e com matrícula ativa. Foi adotada a amostra estratificada uniforme por sexo, perfazendo um total de 384 estudantes do sexo masculino e 384 do sexo feminino. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário. Os dados foram analisados com auxílio Software Statistical Package for the Social Sciences.

Resultados:

Os jovens universitários possuíam conhecimento abaixo da média em relação às infecções sexualmente transmissíveis, quanto à associação com aspectos sociais os estudantes do sexo feminino, casados ou que viviam juntos, que tinham filhos e cursavam a área da saúde possuíam mais conhecimento, sendo estatisticamente significativo (p = <0.05).

Conclusão:

É necessário melhorar as estratégias de educação em saúde da população jovem universitária.

Palavras-chave:
Doenças sexualmente transmissíveis; HIV; Conhecimento; Adulto jovem; Educação em saúde

Abstract

Objective:

To analyze the relationship between the social aspects of university students and the knowledge about the transmission of Sexually Transmitted Infections.

Method:

A cross-sectional descriptive study carried out at a university. The participants were university students aged 18 to 29 and with active enrollment. The stratified uniform sample was adopted by sex, making a total of 384 male students and 384 female students. The instrument of data collection used was a questionnaire. Data were analyzed using Software Statistical Package for the Social Sciences.

Results:

Young university students had knowledge below-average regarding Sexually Transmitted Infections, as for association with social aspects, female students, married or living together, who had children and attended the health area, had more knowledge, being statistically significant (p=<0.05).

Conclusion:

It is necessary to improve the health education strategies of the young university population.

Keywords:
Sexually transmitted diseases; HIV; Knowledge; Young adult; Health education

Resumen

Objetivo:

Analizar la relación entre los aspectos sociales de jóvenes universitarios y el conocimiento acerca de las formas de transmisión de las infecciones por transmisión sexual.

Método:

Estudio descriptivo transversal realizado en una universidad. Los participantes fueron los universitarios en el grupo de edad de 18 a 29 años y con matriculación activa. Se adoptó la muestra estratificada uniforme por sexo, totalizando 384 estudiantes del sexo masculino y 384 del sexo femenino. El instrumento de recolección de datos utilizado fue un cuestionario. Los datos fueron analizados con ayuda del software Statistical Package for the Social Sciences.

Resultados:

Los universitarios poseían conocimiento por debajo de la media con relación a las infecciones sexualmente transmisibles, en cuanto a la asociación con aspectos sociales los estudiantes del sexo femenino, casados ​​o que vivían juntos, que tenían hijos y cursaban el área de la salud poseían más conocimiento, siendo estadísticamente significativo (p = <0.05).

Conclusión:

Es necesario mejorar las estrategias de educación en salud de la población joven universitaria.

Palabras clave:
Enfermedades de transmisión sexual; VIH; Conocimiento; Adulto joven; Educación en Salud

INTRODUÇÃO

Os dados do boletim epidemiológico do Brasil sobre o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids) são inteligíveis no que concerne ao aumento no números de infecções pelo HIV/aids na população jovem, especialmente, entre os homens com idades entre 15 e 29 anos.11 Ministério da Saúde (BR). Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais. Boletim epidemiológico HIV/aids. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2016. [cited 2017 Apr 8]. Available from: http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2016/boletim-epidemiologico-de-aids-2016
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No Brasil, o HIV/aids configura uma das poucas infecções sexualmente transmissíveis (IST) que estão incluídas na lista de agravos de notificação compulsória, nesse sentido a incidência e prevalência de outras infecções são realizadas por meio de estudos epidemiológicos, como nos casos da clamídia, herpes, papiloma vírus humano (HPV) e gonorreia.

Mesmo assim, os dados provenientes do boletim epidemiológico do HIV/aids auxiliam na constatação da população jovem como um grupo populacional vulnerável às IST nos aspectos biopsicosocioculturais e programáticos, tendo em vista que se a incidência ou prevalência de IST é alta em um país ou região, há um risco maior de transmissão sexual do HIV.22 Sychareun V, Thomsen S, Chaleunvong K, Faxelid E. Risk perceptions of STIs/HIV and sexual risk behaviours among sexually experienced adolescents in the Northern part of Lao PDR. BMC Public Health [Internet]. 2013; [cited 2017 Apr 8]; 13:1126. Available from: https://bmcpublichealth.biomedcentral.com/articles/10.1186/1471-2458-13-1126. DOI: 10.1186/1471-2458-13-1126
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No que tange a este estudo, o objeto de pesquisa é o conhecimento dos jovens universitários acerca das formas de transmissão das IST.

Pesquisas33 Borges MR, Silveira RE, Santos AS, Lippi UG. Sexual behaviour among initial academic students. J Res Fundam Care Online [Internet]. 2015 Apr/Jun; [cited 2017 Apr 8]; 7(2):2505-15. Available from: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/3676/pdf_1588. DOI: 10.9789/2175-5361.2015.v7i2.2505-2515
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4 Gomes VLO, Amarijo CL, Baumgarten LZ, Arejano CB, Fonseca AD, Tomaschewski-Barlem JG. Vulnerability of nursing and medicine students by ingestion of alcoholic drinks. J Nurs UFPE On Line [Internet]. 2013 Jan; [cited 2017 Apr 8]; 7(1):128-34. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/10213/0. DOI: 10.5205/reuol.3049-24704-1-LE.0701201318
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5 Abiodun O, Sotunsa J, Ani F, Jaiyesimi E. Knowledge of HIV/AIDS and predictors of uptake of HIV counseling and testing among university student students of a privately owned university in Nigeria. BMC Res Notes [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 7:639. Available from: https://bmcresnotes.biomedcentral.com/articles/10.1186/1756-0500-7-639. DOI: 10.1186/1756-0500-7-639
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6 Asante KO. HIV/AIDS knowledge and uptake of HIV counselling and testing among undergraduate private university students in Accra, Ghana. Reprod Health [Internet]. 2013; [cited 2017 Apr 8]; 10:17. Available from: https://reproductive-health-journal.biomedcentral.com/articles/10.1186/1742-4755-10-17. DOI: 10.1186/1742-4755-10-17
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7 Shiferaw Y, Alemu A, Assefa A, Tesfaye B, Gibermedhin E, Amare M. Perception of risk of HIV and sexual risk behaviors among University students: implication for planning interventions. BMC Res Notes [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 7:162. Available from: https://bmcresnotes.biomedcentral.com/articles/10.1186/1756-0500-7-162. DOI: 10.1186/1756-0500-7-162
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8 Díaz-Cárdenas S, Arrieta-Vergara K, González-Martínez F. Prevalencia de actividad sexual y resultados no deseados em salud sexual y reproductiva en estudiantes universitarios em Cartagena, Colombia, 2012. Rev Colomb Obstet Ginecol [Internet]. 2014 Mar; [cited 2017 Apr 8]; 65(1):22-31. Available from: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-74342014000100004&lng=es&nrm=iso&tlng=es. DOI: http://dx.doi.org/10.18597/rcog.76
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-99 Gómez-Camargo DE, Ochoa-Diaz MM, Canchila-Barrios CA, Ramos-Clason EC, Salguedo-Madrid GI, Malambo-García DI. Salud sexual y reproductiva en estudiantes universitarios de una institución de educación superior en Colombia. Rev Salud Pública [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 16(5):660-72. Available from: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0124-00642014000500002&lng=en. DOI: http://dx.doi.org/10.15446/rsap.v16n5.39998
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apontam que o ambiente universitário é composto predominantemente por jovens e que condutas negativas de saúde, durante o período acadêmico, têm sido observadas nesse universo. O comportamento adquirido nas universidades é característico das mudanças sociais, culturais, psicológicas e biológicas que os jovens sofrem no processo de amadurecimento.

Com o término da adolescência e ingresso nas universidades, é comum que os jovens vivenciem inúmeras novas experiências que antes eram proibidas ou limitadas pela proximidade familiar. Os períodos iniciais dos cursos de graduação incidem sobre a necessidade de buscar amizades e tentar conciliar a nova rotina de compromissos, estudos e responsabilidades. Com uma rotina sobrecarregada de atividades antes não vivenciadas e de maior autonomia e liberdade para os jovens, surgem ambientes de descontração e diversão para aliviar a tensão. Nesse sentido, inúmeros universitários buscam em festas e eventos a descontração necessária para enfrentar esse turbilhão de acontecimentos, promovendo novas formas de comportamento e de viver a vida.33 Borges MR, Silveira RE, Santos AS, Lippi UG. Sexual behaviour among initial academic students. J Res Fundam Care Online [Internet]. 2015 Apr/Jun; [cited 2017 Apr 8]; 7(2):2505-15. Available from: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/3676/pdf_1588. DOI: 10.9789/2175-5361.2015.v7i2.2505-2515
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,44 Gomes VLO, Amarijo CL, Baumgarten LZ, Arejano CB, Fonseca AD, Tomaschewski-Barlem JG. Vulnerability of nursing and medicine students by ingestion of alcoholic drinks. J Nurs UFPE On Line [Internet]. 2013 Jan; [cited 2017 Apr 8]; 7(1):128-34. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/10213/0. DOI: 10.5205/reuol.3049-24704-1-LE.0701201318
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Não obstante a uma realidade brasileira, estudos em países africanos também reconhecem a vulnerabilidade de jovens no contexto do ambiente universitário. Pesquisas em Gana e Nigéria apontam que os estilos de vida dos estudantes no campus universitário os colocam em maior risco de contrair o HIV, tendo em vista que a pressão dos pares no ambiente do campus leva os jovens a se envolverem em relações sexuais casuais.55 Abiodun O, Sotunsa J, Ani F, Jaiyesimi E. Knowledge of HIV/AIDS and predictors of uptake of HIV counseling and testing among university student students of a privately owned university in Nigeria. BMC Res Notes [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 7:639. Available from: https://bmcresnotes.biomedcentral.com/articles/10.1186/1756-0500-7-639. DOI: 10.1186/1756-0500-7-639
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,66 Asante KO. HIV/AIDS knowledge and uptake of HIV counselling and testing among undergraduate private university students in Accra, Ghana. Reprod Health [Internet]. 2013; [cited 2017 Apr 8]; 10:17. Available from: https://reproductive-health-journal.biomedcentral.com/articles/10.1186/1742-4755-10-17. DOI: 10.1186/1742-4755-10-17
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Estudos77 Shiferaw Y, Alemu A, Assefa A, Tesfaye B, Gibermedhin E, Amare M. Perception of risk of HIV and sexual risk behaviors among University students: implication for planning interventions. BMC Res Notes [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 7:162. Available from: https://bmcresnotes.biomedcentral.com/articles/10.1186/1756-0500-7-162. DOI: 10.1186/1756-0500-7-162
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8 Díaz-Cárdenas S, Arrieta-Vergara K, González-Martínez F. Prevalencia de actividad sexual y resultados no deseados em salud sexual y reproductiva en estudiantes universitarios em Cartagena, Colombia, 2012. Rev Colomb Obstet Ginecol [Internet]. 2014 Mar; [cited 2017 Apr 8]; 65(1):22-31. Available from: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-74342014000100004&lng=es&nrm=iso&tlng=es. DOI: http://dx.doi.org/10.18597/rcog.76
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9 Gómez-Camargo DE, Ochoa-Diaz MM, Canchila-Barrios CA, Ramos-Clason EC, Salguedo-Madrid GI, Malambo-García DI. Salud sexual y reproductiva en estudiantes universitarios de una institución de educación superior en Colombia. Rev Salud Pública [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 16(5):660-72. Available from: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0124-00642014000500002&lng=en. DOI: http://dx.doi.org/10.15446/rsap.v16n5.39998
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-1010 Spindola T, Fonte VRF, Martins ERC, Francisco MTR, Sodré CP, Oliveira CSR. Práticas sexuais, uso do preservativo e testagem para o HIV entre graduandos de enfermagem. Rev Enferm UFSM [Internet]. 2017 Oct/Dec; [cited 2017 Apr 8]; 7(3):477-89. Available from: https://periodicos.ufsm.br/reufsm/article/view/25736/pdf. DOI: http://dx.doi.org/10.5902/2179769225736
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apontam a vulnerabilidade da população de jovens universitários às IST, tendo em vista a variabilidade de parceiros e o início da vida sexual. O cenário universitário favorece o aparecimento e consolidação de determinados comportamentos, especialmente, relacionados ao consumo de álcool e outras drogas e de encontros sexuais. Os dados descrevem que o consumo de substâncias psicoativas entre os universitários é mais frequente do que na população em geral, e o seu uso aumenta a probabilidade de vivenciar situações de risco, dentre elas o sexo sem proteção.

Apesar da população jovem ser considerada vulnerável a inúmeros problemas de saúde e o cenário universitário nutrir, por meio de aspectos socioculturais, a manutenção dessas vulnerabilidades, ainda assim não existe uma política voltada ao contexto dessa população. A articulação entre os serviços de saúde e as universidades ainda é precária, e poderia ser minimizado caso o decreto interministerial (saúde e educação) que instituiu o Programa Saúde nas Escolas (PSE) fosse estendido para educação superior no país, contudo ficou restrito a educação básica.

Nesse sentido, as atividades de saúde para os jovens universitários ou são realizadas pelas próprias instituições, através de projetos de pesquisa ou extensão, ou cabe ao próprio jovem buscar acesso na rede de saúde local. No que tange a educação em saúde sobre as IST, pesquisas55 Abiodun O, Sotunsa J, Ani F, Jaiyesimi E. Knowledge of HIV/AIDS and predictors of uptake of HIV counseling and testing among university student students of a privately owned university in Nigeria. BMC Res Notes [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 7:639. Available from: https://bmcresnotes.biomedcentral.com/articles/10.1186/1756-0500-7-639. DOI: 10.1186/1756-0500-7-639
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,66 Asante KO. HIV/AIDS knowledge and uptake of HIV counselling and testing among undergraduate private university students in Accra, Ghana. Reprod Health [Internet]. 2013; [cited 2017 Apr 8]; 10:17. Available from: https://reproductive-health-journal.biomedcentral.com/articles/10.1186/1742-4755-10-17. DOI: 10.1186/1742-4755-10-17
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,1111 Dantas KTB, Spindola T, Teixeira SVB, Lemos ACM, Ferreira LEM. Young academics and the knowledge about sexually transmitted diseases - contribution to care in nursing. J Res Fundam Care Online [Internet]. 2015 Jul/Sep; [cited 2017 Apr 8]; 7(3):3020-36. Available from: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/4689/pdf_1666. DOI: 10.9789/2175-5361.2015.v7i3.3020-3036
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12 Castro EL, Caldas TA, Morcillo AM, Pereira EMA, Velho PENF. O conhecimento e o ensino sobre doenças sexualmente transmissíveis entre universitários. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2016; [cited 2017 Apr 8]; 21(6):1975-84. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v21n6/1413-8123-csc-21-06-1975.pdf. DOI: 10.1590/1413-81232015216.00492015
http://www.scielo.br/pdf/csc/v21n6/1413-...

13 Panobianco MS, Lima ADF, Oliveira ISB, Gozzo TO. Knowledge concerning HPV among adolescent undergraduate nursing students. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2013 Jan/Mar; [cited 2017 Apr 8]; 22(1):201-7. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072013000100024&lng=en&nrm=iso&tlng=en. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072013000100024
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14 Koç Z. University student's knowledge and attitudes regarding cervical cancer, human papillomavirus, and human papillomavirus vaccines in Turkey. J Am Coll Health [Internet]. 2015; [cited 2017 Apr 2]; 63(1):13-22. Available from: http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/07448481.2014.963107. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/07448481.2014.963107
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-1515 Gravata A, Castro R, Borges-Costa J. Study of the Sociodemographic Factors and Risky Behaviours Associated with the Acquisition of Sexual Transmitted Infections by Foreign Exchange Students in Portugal. Acta Med Port [Internet]. 2016 Jun; [cited 2017 Apr 2]; 29(6):360-6. Available from: http://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/6992. DOI: http://dx.doi.org/10.20344/amp.6692
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evidenciam que o conhecimento dos universitários sobre as infecções é baixo e a maioria desconhece as principais sintomatologias, formas de transmissão e prevenção, principalmente em infecções de grande incidência e de baixa abordagem em veículos de informação, como é o caso da clamídia e tricomoníase.

Sabe-se que no campo da prevenção as atividades de educação em saúde são indispensáveis. Nesse sentido, considerando a vulnerabilidade de jovens às IST, o ambiente universitário, o baixo conhecimento que possuem acerca das IST e a ausência de uma política pública direcionada às demandas da população universitária, este estudo tem como objetivo analisar a relação entre os aspectos sociais de jovens universitários e o conhecimento acerca das formas de transmissão das infecções sexualmente transmissíveis. O conhecimento acerca das IST pode ser considerado um marcador para o acesso às atividades de educação em saúde dessa população.

MÉTODO

Estudo de desenho descritivo transversal com abordagem quantitativa. O campo da pesquisa foi um campus universitário de uma instituição privada no Município do Rio de Janeiro, que oferta mais de 25 cursos de graduação, e possuía mais de quinze mil alunos de graduação com matrícula ativa até o primeiro semestre de 2016.

Os participantes do estudo foram os jovens universitários que estavam regularmente matriculados nos cursos de graduação. É considerado jovem a população entre 15 e 29 anos segundo o Estatuto da Juventude no Brasil, porém, neste estudo, não foram incluídos os indivíduos com idade inferior a 18 anos devido a questões legais que exigem o consentimento dos responsáveis para a participação em pesquisas envolvendo seres humanos.1616 Brasil. Lei Nº. 12852, de 05 de agosto de 2013. Institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE. Brasília (DF): Diário Oficial da República Federativa do Brasil; 2013.

Os critérios de inclusão foram condizer com a faixa etária pré-estabelecida (18 a 29 anos) e estar com matrícula ativa nos respectivos cursos de graduação ofertados pelo Campus. Como critério de exclusão, adotou-se deficiência sensorial visual, pois nosso instrumento de coleta de dados (ICD) não estava adaptado em braile.

Os participantes foram selecionados por meio da amostragem estratificada uniforme por sexo, pois não obtivemos da instituição o quantitativo de alunos por idade e sexo para utilização da amostragem estratificada proporcional. Utilizamos para o cálculo da amostra o tamanho conservador para populações infinitas, tendo-se estabelecido o intervalo de confiança de 95% e erro amostral de 5% pontos percentuais (pp), obtendo-se uma amostra de 384 estudantes do sexo masculino e 384 do sexo feminino.

O ICD utilizado foi um questionário com 60 questões elaborado e adaptado, para o grupo populacional estudado, com base no estudo "Pesquisa de Comportamentos, Atitudes e Práticas da População Brasileira".1717 Ministério da Saúde (BR). Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais. Pesquisa de conhecimentos, atitudes e práticas na população brasileira 2008. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2011 [cited 2017 Apr 8]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pesquisa_conhecimentos_atitudes_praticas_populacao_brasileira.pdf
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Trata-se de um inquérito populacional, encomendado pelo Ministério da Saúde do Brasil, que tinha como objetivo principal possibilitar a construção de indicadores para monitoramento da epidemia de IST/aids no Brasil.

As variáveis dependentes utilizadas foram relacionadas à avaliação do conhecimento sobre as IST. O conhecimento foi avaliado por meio de um indicador construído a partir de quatro blocos de perguntas, com possibilidades de respostas sim ou não, para as infecções causadas pelo HIV, sífilis, hepatite, gonorreia, herpes, HPV e clamídia. Os blocos eram: transmissão por contato não sexual, transmissão por sangue e compartilhamento de objetos perfuro cortantes, transmissão por via sexual e possibilidade de cura. Para isso, foi estabelecida uma pontuação de 0 (nenhum conhecimento) a 4 (total conhecimento).

O conhecimento foi avaliado pelo ponto de corte da mediana. Nesse sentido, considerou-se como conhecimento adequado quem atingisse, no mínimo, a metade da pontuação máxima, ou seja, maior ou igual a 2, e conhecimento abaixo da média aqueles com pontuação menor que 2. Quanto maior a pontuação atingida, maior seria o conhecimento.

As variáveis independentes utilizadas nessa investigação são relacionadas aos aspectos sociais.

Os dados foram coletados em junho e julho de 2016, nas dependências do Campus do universitário selecionado. As abordagens eram realizadas nas áreas comuns (áreas de lazer, praça de alimentação, quadra de esportes e corredores) e, em salas, após a aula e com autorização do professor responsável pela disciplina. O tempo de preenchimento do questionário levou em média dez minutos. Os alunos que aceitaram participar tinham que responder e entregar o questionário no mesmo momento da abordagem do pesquisador.

Os questionários foram transcritos para uma planilha, utilizando recursos do Software Excel 2003, formando um banco de dados. Posteriormente foram realizadas as análises inferenciais por meio do Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Para verificar a associação entre variáveis, foi aplicado o teste qui-quadrado de Pearson para as variáveis dicotômicas, com nível de significância de 95%, e o teste de análise de variância (ANOVA) para a comparação da média do conhecimento com as demais variáveis independentes.

O estudo seguiu as determinações da resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a realização de pesquisas envolvendo seres humanos. A pesquisa foi apreciada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade sede da pesquisa no ano de 2016, com o parecer número 1.577.311 e CAAE 56763316.1.0000.5291.

RESULTADOS

A maioria dos participantes era de cursos não vinculados à área da saúde (67,06%) enquanto que 32,94% eram da área da saúde. Participaram da pesquisa alunos de vinte e três cursos de graduação, tendo maior proporção de participantes os cursos de engenharia (22,1%), seguido da enfermagem (19,9%) e direito (9,8%).

Os participantes tinham idade entre 18 e 21 anos (69,26%), a média foi de 20,9 anos e o desvio padrão de 2.59. Em relação ao estado marital/conjugal a maioria era solteira (58,72%), não possuíam filhos (96,35%) e se declararam brancos em relação à cor da pele (56,25%). Em relação à sexarca, 654 (85,16%) tinham vida sexual ativa e 114 (14,84%) ainda não haviam iniciado a vida sexual.

No que tange o conhecimento acerca das IST, os participantes apresentaram conhecimento abaixo do esperado, com média de conhecimento na avaliação empregada de 1,66. Nenhum participante obteve pontuação máxima.

A Tabela 1 compara os aspectos sociais dos estudantes e o nível de conhecimento em relação às infecções sexualmente transmissíveis. É possível observar, através de significância estatística, que sexo (p = 0,0001), situação conjugal (p = 0,008), possuir filhos (p = 0,005) e o tipo de área do conhecimento que está cursando na universidade (p = 0,0002) são fatores que estão associados ao nível de conhecimento acerca das IST.

Tabela 1
Associação entre o perfil social e o nível de conhecimento dos universitários em relação às formas de transmissão das IST. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2016. (N = 768)

Os dados da Tabela 1 indicam que o nível de conhecimento é igual entre os estudantes universitários, que compõem esse estudo, em relação à cor da pele e a faixa etária. Quanto às demais variáveis, podemos afirmar que o nível de conhecimento dos estudantes matriculados nos cursos da área da saúde é 10% maior que os estudantes de outras áreas de conhecimento. Em relação ao sexo, os estudantes do sexo feminino possuem 9% mais conhecimento sobre as IST que os do sexo masculino. Os estudantes que possuem filhos têm 18% mais conhecimento que os estudantes que não têm filho e os estudantes casados possuem mais conhecimento que os solteiros.

Na Tabela 2 é possível observar a associação entre o conhecimento dos universitários quanto a algumas IST com as variáveis sexo e faixa etária. As mulheres demonstram possuir mais conhecimento em relação às formas de transmissão, sendo estatisticamente significativo, o conhecimento em relação à hepatite (p = 0.0001), gonorreia (p = 0.041), herpes (p = 0.011), HPV (p = <0.0001) e clamídia (p = <0.0001). No que tange a faixa etária, os jovens-adultos (25 a 29 anos) referem possuir mais conhecimento, sendo estatisticamente significativo em relação à sífilis (p = 0.015), hepatite (p = 0.049) e clamídia (p = 0.011).

Tabela 2
Autoavaliação de universitários quanto ao conhecimento das formas de transmissão das IST, associada ao sexo e a faixa etária. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2016 (N = 768)

DISCUSSÃO

No que tange aos aspectos sociais, outras pesquisas se assemelham ao perfil social dos estudantes universitários participantes deste estudo. A média de idade variou entre 19 e 22 anos nos diferentes estudos analisados, a maioria dos jovens universitários era solteira, declaram-se, predominantemente, como brancos ou pardos e possuíam religião católica. Todos os estudos possuíam maior participação feminina, no entanto, apresentavam variação da proporção entre homens e mulheres quando eram investigados apenas estudantes da área da saúde. Por questões históricas e culturais os cursos da área da saúde são mais ocupados por mulheres. Possuir filhos variou entre 2,5% e 8,5% na população universitária.33 Borges MR, Silveira RE, Santos AS, Lippi UG. Sexual behaviour among initial academic students. J Res Fundam Care Online [Internet]. 2015 Apr/Jun; [cited 2017 Apr 8]; 7(2):2505-15. Available from: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/3676/pdf_1588. DOI: 10.9789/2175-5361.2015.v7i2.2505-2515
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,88 Díaz-Cárdenas S, Arrieta-Vergara K, González-Martínez F. Prevalencia de actividad sexual y resultados no deseados em salud sexual y reproductiva en estudiantes universitarios em Cartagena, Colombia, 2012. Rev Colomb Obstet Ginecol [Internet]. 2014 Mar; [cited 2017 Apr 8]; 65(1):22-31. Available from: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-74342014000100004&lng=es&nrm=iso&tlng=es. DOI: http://dx.doi.org/10.18597/rcog.76
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,1111 Dantas KTB, Spindola T, Teixeira SVB, Lemos ACM, Ferreira LEM. Young academics and the knowledge about sexually transmitted diseases - contribution to care in nursing. J Res Fundam Care Online [Internet]. 2015 Jul/Sep; [cited 2017 Apr 8]; 7(3):3020-36. Available from: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/4689/pdf_1666. DOI: 10.9789/2175-5361.2015.v7i3.3020-3036
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12 Castro EL, Caldas TA, Morcillo AM, Pereira EMA, Velho PENF. O conhecimento e o ensino sobre doenças sexualmente transmissíveis entre universitários. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2016; [cited 2017 Apr 8]; 21(6):1975-84. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v21n6/1413-8123-csc-21-06-1975.pdf. DOI: 10.1590/1413-81232015216.00492015
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13 Panobianco MS, Lima ADF, Oliveira ISB, Gozzo TO. Knowledge concerning HPV among adolescent undergraduate nursing students. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2013 Jan/Mar; [cited 2017 Apr 8]; 22(1):201-7. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072013000100024&lng=en&nrm=iso&tlng=en. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072013000100024
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14 Koç Z. University student's knowledge and attitudes regarding cervical cancer, human papillomavirus, and human papillomavirus vaccines in Turkey. J Am Coll Health [Internet]. 2015; [cited 2017 Apr 2]; 63(1):13-22. Available from: http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/07448481.2014.963107. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/07448481.2014.963107
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15 Gravata A, Castro R, Borges-Costa J. Study of the Sociodemographic Factors and Risky Behaviours Associated with the Acquisition of Sexual Transmitted Infections by Foreign Exchange Students in Portugal. Acta Med Port [Internet]. 2016 Jun; [cited 2017 Apr 2]; 29(6):360-6. Available from: http://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/6992. DOI: http://dx.doi.org/10.20344/amp.6692
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16 Brasil. Lei Nº. 12852, de 05 de agosto de 2013. Institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE. Brasília (DF): Diário Oficial da República Federativa do Brasil; 2013.

17 Ministério da Saúde (BR). Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais. Pesquisa de conhecimentos, atitudes e práticas na população brasileira 2008. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2011 [cited 2017 Apr 8]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pesquisa_conhecimentos_atitudes_praticas_populacao_brasileira.pdf
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-1818 Rodríguez DEC, Varela YP. Percepciones que afectan negativamente el uso del condón en Universitarios de la Costa Caribe Colombiana. Hacia Promoc Salud [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 19(1):54-67. Available from: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0121-75772014000100005&lng=es&nrm=iso&tlng=es
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Outras pesquisas corroboram com os dados dessa investigação, ao sinalizar que os estudantes universitários ainda carecem de conhecimento acerca das IST. Estudo com universitários da área da saúde do Rio de Janeiro identificou que 58,5% dos estudantes não conhecem todas as formas de transmissão das IST, apesar de 48,5% terem afirmado que possuíam todo o conhecimento.1111 Dantas KTB, Spindola T, Teixeira SVB, Lemos ACM, Ferreira LEM. Young academics and the knowledge about sexually transmitted diseases - contribution to care in nursing. J Res Fundam Care Online [Internet]. 2015 Jul/Sep; [cited 2017 Apr 8]; 7(3):3020-36. Available from: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/4689/pdf_1666. DOI: 10.9789/2175-5361.2015.v7i3.3020-3036
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Em investigação com universitários de São Paulo foi observado que 81% dos estudantes tinham dúvidas sobre a sintomatologia das IST.1212 Castro EL, Caldas TA, Morcillo AM, Pereira EMA, Velho PENF. O conhecimento e o ensino sobre doenças sexualmente transmissíveis entre universitários. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2016; [cited 2017 Apr 8]; 21(6):1975-84. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v21n6/1413-8123-csc-21-06-1975.pdf. DOI: 10.1590/1413-81232015216.00492015
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Pesquisa em Ribeirão Preto, São Paulo, com mulheres estudantes de um curso de graduação em enfermagem verificou que, apesar de 69% conhecerem as formas de transmissão do HPV apenas 20,7% disseram saber alguns sinais e sintomas.1313 Panobianco MS, Lima ADF, Oliveira ISB, Gozzo TO. Knowledge concerning HPV among adolescent undergraduate nursing students. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2013 Jan/Mar; [cited 2017 Apr 8]; 22(1):201-7. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072013000100024&lng=en&nrm=iso&tlng=en. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072013000100024
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Fenômeno este, também, observado com jovens universitárias na Turquia, onde, apenas 10% das entrevistadas, reconheciam que o HPV é um fator de risco para o câncer de colo de útero e que 90,9% não sabiam como se proteger do HPV.1414 Koç Z. University student's knowledge and attitudes regarding cervical cancer, human papillomavirus, and human papillomavirus vaccines in Turkey. J Am Coll Health [Internet]. 2015; [cited 2017 Apr 2]; 63(1):13-22. Available from: http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/07448481.2014.963107. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/07448481.2014.963107
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Em pesquisa portuguesa com estudantes universitários em intercâmbio, foi observado que 21% dos participantes não sabiam que as IST podem ser transmitidas pelo sexo oral.1515 Gravata A, Castro R, Borges-Costa J. Study of the Sociodemographic Factors and Risky Behaviours Associated with the Acquisition of Sexual Transmitted Infections by Foreign Exchange Students in Portugal. Acta Med Port [Internet]. 2016 Jun; [cited 2017 Apr 2]; 29(6):360-6. Available from: http://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/6992. DOI: http://dx.doi.org/10.20344/amp.6692
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Estudos com universitários africanos têm apontado que a consciência universal sobre o HIV/aids, não implica em um conhecimento abrangente e que informações incorretas, equivocadas e dúvidas ainda estão presentes no conhecimento popular. Apesar de o conhecimento não ser um preditor para mudança de comportamento, ainda assim o acesso à informação torna-se um pré-requisito para adoção de condutas preventivas.55 Abiodun O, Sotunsa J, Ani F, Jaiyesimi E. Knowledge of HIV/AIDS and predictors of uptake of HIV counseling and testing among university student students of a privately owned university in Nigeria. BMC Res Notes [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 7:639. Available from: https://bmcresnotes.biomedcentral.com/articles/10.1186/1756-0500-7-639. DOI: 10.1186/1756-0500-7-639
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,66 Asante KO. HIV/AIDS knowledge and uptake of HIV counselling and testing among undergraduate private university students in Accra, Ghana. Reprod Health [Internet]. 2013; [cited 2017 Apr 8]; 10:17. Available from: https://reproductive-health-journal.biomedcentral.com/articles/10.1186/1742-4755-10-17. DOI: 10.1186/1742-4755-10-17
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Investigação com universitários de Gana na África sobre conhecimento em relação ao HIV/aids identificou que as mulheres possuíam mais conhecimento do que os homens, assim como os jovens-adultos e os casados tinham mais conhecimento que os jovens-jovens e os solteiros, fenômeno este também observado no presente estudo.66 Asante KO. HIV/AIDS knowledge and uptake of HIV counselling and testing among undergraduate private university students in Accra, Ghana. Reprod Health [Internet]. 2013; [cited 2017 Apr 8]; 10:17. Available from: https://reproductive-health-journal.biomedcentral.com/articles/10.1186/1742-4755-10-17. DOI: 10.1186/1742-4755-10-17
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No entanto, estudo com universitários da Nigéria identificou que os homens e os estudantes mais velhos tinham mais conhecimento sobre HIV/aids do que as mulheres e estudantes mais novos, contudo as mulheres e os estudantes mais velhos estavam mais dispostos a realizar teste para o HIV.55 Abiodun O, Sotunsa J, Ani F, Jaiyesimi E. Knowledge of HIV/AIDS and predictors of uptake of HIV counseling and testing among university student students of a privately owned university in Nigeria. BMC Res Notes [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 7:639. Available from: https://bmcresnotes.biomedcentral.com/articles/10.1186/1756-0500-7-639. DOI: 10.1186/1756-0500-7-639
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Estudo realizado na Colômbia identifica que o grau de conhecimento acerca das IST não evidenciou associação significativa com nenhuma variável estudada. No entanto, o grau da atitude frente às IST evidenciou associação significativa em relação à área de estudo, sendo maior entre os estudantes da saúde e do sexo feminino. Enquanto que a associação de atitudes e práticas evidenciou correlação com idade e semestre dos estudantes. Os estudantes de maior idade e semestre avançados tiveram pontos mais elevados em boas atitudes e práticas.1919 Mazo-Vélez Y, Domínguez-Domínguez LE, Cardona-Arias JA. Conocimientos, actitudes y prácticas en adolescentes universitários entre 15 y 20 años sobre VIH/SIDA en Medellín, Colombia 2013. Med UIS [Internet]. 2014 Sep/Dec; [cited 2017 Apr 8]; 27(3):35-45. Available from: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0121-03192014000300005
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Em outro estudo colombiano, foi possível identificar que os estudantes da área da saúde são os que mais utilizam o preservativo, possivelmente devido ao conhecimento que possuem em relação às IST ser maior do que entre os universitários de outras áreas do conhecimento.1818 Rodríguez DEC, Varela YP. Percepciones que afectan negativamente el uso del condón en Universitarios de la Costa Caribe Colombiana. Hacia Promoc Salud [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 19(1):54-67. Available from: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0121-75772014000100005&lng=es&nrm=iso&tlng=es
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Quanto às infecções que os jovens universitários possuem mais familiaridade, pesquisa descreve que as IST mais conhecidas entre os estudantes de uma instituição universitária na Colômbia eram o HIV, reportado por 27,4% dos participantes, seguido da gonorreia (24,1%), sífilis (22,1%), herpes genital (12,3%) e HPV (7,5%). Contudo, apesar de 96% dos estudantes universitários afirmarem conhecer as vias de transmissão do HIV, apenas 40,4% conheciam todas.99 Gómez-Camargo DE, Ochoa-Diaz MM, Canchila-Barrios CA, Ramos-Clason EC, Salguedo-Madrid GI, Malambo-García DI. Salud sexual y reproductiva en estudiantes universitarios de una institución de educación superior en Colombia. Rev Salud Pública [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 16(5):660-72. Available from: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0124-00642014000500002&lng=en. DOI: http://dx.doi.org/10.15446/rsap.v16n5.39998
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Outros estudos corroboram com a presente investigação ao sinalizar que o HIV/aids é a IST mais conhecida entre os universitários. Pesquisa realizada, no Brasil, com universitários da área da saúde identificou que a maioria dos participantes desconhecem infecções como clamídia, cancro mole, tricomoníase, linfogranuloma venéreo, vírus T-linfotrópico humano (HTLV) e donovanose.2020 Sales WB, Caveião C, Visentin A, Mocelin D, Costa PM, Simm EB. Comportamento sexual de risco e conhecimento sobre IST/SIDA em universitários da saúde. Rev Enferm Ref [Internet]. 2016 Sep; [cited 2017 Apr 2]; 4(10):19-27. Available from: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-02832016000300003. DOI: http://dx.doi.org/10.12707/RIV16019
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Enquanto que 42,3% dos estudantes universitários estrangeiros em Portugal desconheciam a infecção sexual por clamídia.1515 Gravata A, Castro R, Borges-Costa J. Study of the Sociodemographic Factors and Risky Behaviours Associated with the Acquisition of Sexual Transmitted Infections by Foreign Exchange Students in Portugal. Acta Med Port [Internet]. 2016 Jun; [cited 2017 Apr 2]; 29(6):360-6. Available from: http://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/6992. DOI: http://dx.doi.org/10.20344/amp.6692
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Apesar de não ser objetivo deste trabalho, os resultados demandam questionamentos para a realização de outros cruzamentos dos dados que aprofundem discussões sobre as relações de gênero. Afinal, nesta investigação foi possível identificar que as mulheres possuem maior nível de conhecimento em relação às IST que os homens.

No que concerne a este estudo, os dados, em concordância com a literatura, apontam que vulnerabilidades individuais estão presentes nos jovens universitários, através do conhecimento insuficiente sobre as IST. Salienta, também, a vulnerabilidade social, por meio das relações desiguais entre gêneros que repercutem no cuidado com a sua saúde; e a vulnerabilidade programática, onde, mesmo frequentando o ensino superior, não apresentam conhecimento satisfatório sobre as IST.

O estudo apresenta limitações, ao retratar a realidade de apenas um campus universitário e que não obteve a participação de alunos de todos os cursos ofertados pela instituição, tendo em vista que a presente investigação não tinha o propósito de avaliar os cursos. Dessa forma, os dados não podem ser generalizados para a população universitária de todo o país, apesar de os resultados condizerem com demais investigações nacionais e internacionais.

Outro aspecto que talvez possa ser explorado em futuras investigações é a relação entre a área de conhecimento, a qual os universitários estão vinculados, e o conhecimento que possuem sobre as IST. Apesar de haver diferença significativamente estatística, no conhecimento das formas de transmissão das IST, entre os universitários que pertencem à área da saúde e que os pertencem a outras áreas, não foi objetivo dessa investigação debruçar-se sobre apenas esse assunto, tendo em vista que não foi realizada uma amostra estratificada por cursos. No entanto, surgem algumas indagações: O conhecimento dos universitários da área da saúde é maior pela oferta de disciplinas que abordam a temática? A oferta de uma disciplina sobre saúde sexual para os universitários de todas as áreas do conhecimento seria efetiva para a melhoria do conhecimento e das condutas sexuais?

Os dados aqui apresentados retratam o desafio de se pensar em prevenção com a atual resposta em educação em saúde que tem sido empregada. As IST sempre foram tratadas de forma generalizada e abrangente, com exceção do HIV que obteve maior destaque nas políticas de prevenção. A falta de visibilidade das infecções, das suas respectivas formas de transmissão, da incidência, dos sintomas e das consequências para a saúde, suscita a luta com o desconhecido e demanda incerteza e dúvida entre os jovens que não conseguem identificar o perigo que os circunda. Outros estudos que também trataram da temática do enfrentamento das IST com a população universitária sinalizam em seus achados a necessidade de investimentos em educação em saúde, tendo em vista que a maioria dos entrevistados tem acesso à informação apenas por equipamentos de mídia (jornais, televisão e internet).33 Borges MR, Silveira RE, Santos AS, Lippi UG. Sexual behaviour among initial academic students. J Res Fundam Care Online [Internet]. 2015 Apr/Jun; [cited 2017 Apr 8]; 7(2):2505-15. Available from: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/3676/pdf_1588. DOI: 10.9789/2175-5361.2015.v7i2.2505-2515
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,55 Abiodun O, Sotunsa J, Ani F, Jaiyesimi E. Knowledge of HIV/AIDS and predictors of uptake of HIV counseling and testing among university student students of a privately owned university in Nigeria. BMC Res Notes [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 7:639. Available from: https://bmcresnotes.biomedcentral.com/articles/10.1186/1756-0500-7-639. DOI: 10.1186/1756-0500-7-639
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,66 Asante KO. HIV/AIDS knowledge and uptake of HIV counselling and testing among undergraduate private university students in Accra, Ghana. Reprod Health [Internet]. 2013; [cited 2017 Apr 8]; 10:17. Available from: https://reproductive-health-journal.biomedcentral.com/articles/10.1186/1742-4755-10-17. DOI: 10.1186/1742-4755-10-17
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,88 Díaz-Cárdenas S, Arrieta-Vergara K, González-Martínez F. Prevalencia de actividad sexual y resultados no deseados em salud sexual y reproductiva en estudiantes universitarios em Cartagena, Colombia, 2012. Rev Colomb Obstet Ginecol [Internet]. 2014 Mar; [cited 2017 Apr 8]; 65(1):22-31. Available from: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-74342014000100004&lng=es&nrm=iso&tlng=es. DOI: http://dx.doi.org/10.18597/rcog.76
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,99 Gómez-Camargo DE, Ochoa-Diaz MM, Canchila-Barrios CA, Ramos-Clason EC, Salguedo-Madrid GI, Malambo-García DI. Salud sexual y reproductiva en estudiantes universitarios de una institución de educación superior en Colombia. Rev Salud Pública [Internet]. 2014; [cited 2017 Apr 8]; 16(5):660-72. Available from: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0124-00642014000500002&lng=en. DOI: http://dx.doi.org/10.15446/rsap.v16n5.39998
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,1212 Castro EL, Caldas TA, Morcillo AM, Pereira EMA, Velho PENF. O conhecimento e o ensino sobre doenças sexualmente transmissíveis entre universitários. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2016; [cited 2017 Apr 8]; 21(6):1975-84. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v21n6/1413-8123-csc-21-06-1975.pdf. DOI: 10.1590/1413-81232015216.00492015
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,2020 Sales WB, Caveião C, Visentin A, Mocelin D, Costa PM, Simm EB. Comportamento sexual de risco e conhecimento sobre IST/SIDA em universitários da saúde. Rev Enferm Ref [Internet]. 2016 Sep; [cited 2017 Apr 2]; 4(10):19-27. Available from: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-02832016000300003. DOI: http://dx.doi.org/10.12707/RIV16019
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Os achados evidenciaram que os participantes tinham mais conhecimento sobre o HIV, contudo, outras infecções como a clamídia, o HPV e o Herpes, ainda são desconhecidas pelos estudantes universitários. Cabe lembrar que as infecções mencionadas são de grande prevalência e incidência nacional e que, inclusive, aumentam a chance de infecção pelo HIV.

Para além do HIV, os esforços para o enfrentamento das IST devem considerar o empenho em trazer visibilidade às demais infecções. Nesse caso, reforça-se a importância da educação em saúde para aprofundar o diálogo com a sociedade em geral. Atualmente, enquanto os tratamentos para o HIV evoluem, as infecções como a gonorreia e a clamídia estão se tornando intratáveis em decorrência da resistência aos antibióticos.

Nesse sentido, os dados dessa investigação reforçam a necessidade de atividades educativas com a população jovem; a inclusão de disciplinas na formação curricular relacionadas à sexualidade e a prevenção das IST; o aumento do diálogo em relação às IST negligenciadas ou pouco discutidas/abordadas com a população; o empenho político e cultural para reduzir as desigualdades entre os gêneros e estimular a participação do homem no cuidado à sua saúde e no respeito com a saúde das suas parcerias; e que a universidade, por meio do seu papel no ensino, pesquisa e extensão, contribua com a melhoria do conhecimento dos seus alunos e, consequentemente, na produção e disseminação de informações que promovam uma sociedade saudável.

Cabe salientar, que o enfretamento das IST deve começar o quanto antes. As universidades são apenas mais um espaço diante de uma infinidade de ambientes onde devem ser pensadas atividades de prevenção. Os jovens tendem a iniciar a vida sexual antes de adentrarem nas universidades, portanto as atividades de prevenção devem ser iniciadas no ambiente familiar, nas escolas e nos espaços de convivência de crianças e adolescentes, preferencialmente por profissionais capacitados e com técnicas de ensino-aprendizagem compatíveis com a idade. As atividades extensionistas das universidades são importantes para alavancar a ciência e melhorar a forma de enfrentamento, contudo a sociedade, os serviços em geral e a política devem estar engajados nessa luta.

É importante que os serviços de saúde considerem as universidades como um espaço de articulação intersetorial para promover uma mobilização social de enfrentamento às IST, bem como de outros agravos que acometem a população jovem. Enquanto integrantes da sociedade, temos o dever de garantir os direitos fundamentais da pessoa humana e isso inclui os direitos sexuais e reprodutivos. O sexo e a sexualidade devem ser percebidos como algo natural e livre de censuras. Devemos tratar da temática com diálogo, escuta e discussão, dispondo-nos de preconceitos e moralidades.

Se considerarmos que os relacionamentos afetivos nos tempos atuais são efêmeros, essa realidade torna-se preocupante. Assim, temos uma população jovem, com sonhos, ideais e muita energia, em busca de novas e vibrantes experiências, disposta a descobrir o mundo que os cerca e vivenciar grandes e novas emoções. Nesse contexto, para aumentar o prazer e as emoções, poderão se aproximar de outros fatores que tende a torna-los mais vulneráveis ainda às IST, como o álcool e as drogas.

CONCLUSÃO

A pesquisa verificou que os jovens universitários possuem conhecimento em relação às IST abaixo da média, evidenciando lacunas no conhecimento e justificando a importância de ações de educação em saúde.

Nas análises inferenciais foi observado que os participantes do sexo feminino, casados ou que vivem com o(a) companheiro(a), que possuem filho(s) e que frequentam os cursos da área da saúde, foram os que demonstraram possuir melhor pontuação na avaliação do conhecimento em relação às IST. Os participantes solteiros e do sexo masculino apresentam menor pontuação de conhecimento em relação às IST.

O estudo ratifica a importância da prática da enfermagem no ambiente universitário e a necessidade da educação em saúde como pilar para o enfrentamento às IST desde os períodos iniciais da graduação. No que concerne ao cuidado de indivíduos, família e sociedade, a educação em saúde sobre as IST visa promover o conhecimento adequado para utilização de métodos preventivos; identificação precoce de sintomas e busca por tratamento em tempo oportuno; coibir estigmas e preconceitos; eliminar as relações desiguais de gênero e a misoginia.

  • a
    Extraído da dissertação de mestrado de título: Condutas sexuais de jovens universitários e o conhecimento em relação às Infecções Sexualmente Transmissíveis. Apresentada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro em dezembro de 2016.

REFERENCES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    19 Out 2017
  • Aceito
    16 Fev 2018
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